sábado, 21 de janeiro de 2017

MATUTINA
Seh M. Pereira
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o olor, de cio, de fêmea misturava-se a fumaça do
café que eu acabara de fazer. e por mais que
essa bebida matutina estivesse amarga era com a língua, e todo esse seu dialeto, que ela adoçava o inicio do meu dia. o olor, dela de manhã, era um convite para não sairmos da cama. e permanecermos coando. coando os nossos corpos sob o lençol
prestes a não quarar, tão cedo, com o giro dos ponteiros. o amor, as vezes, amanhece e em outras já acorda amanhecido. ambos ponho na forma e levo ao
forno para ficar no nosso ponto. ficar crocante. para ficar torradas na manteiga derretida.
o olor, dela de manhã, mistura-se ao café com pão que lhe levava
na cama. e, também, ao lençol amarratado feito abraço apertado, sem espaço de tempo para se pensar longe, desse nosso íntimo ligamento. eu era dela,
e ela
era de quem ela quisesse..

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segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

OLARIA
Seh M Pereira
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hoje percebi que as minhas vaidades precisavam
ser sacudidas. hoje
renunciei os egos em que me escondi, e
desarmei os
meus escudos. desrivalizei de mim. e
não foi fácil mudar o inadequado e me
resgatar de mim. hoje percebi
que minhas
vaidades precisavam ser
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sacudidas sim, e ao desembaçar esse meu
espelho não pude me consolar..
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não foi fácil mudar o meu inadequado,
mas hoje renunciei
os egos em que me escondi; e me tornei o meu
próprio olheiro. e o que te
digo, despido desses meus escudos

é que, às vezes, ainda não me reconheço.
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não é facil mudar o meu inadequado, e ser o
meu próprio olheiro. e apontar o
meu umbigo se
despindo de si mesmo.

hoje sou todo renuncia..
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desembacei o espelho que me
cobria e me enxerguei nu,
e me resgatei de
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mim..
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

CASIMIRA
Seh M Pereira
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persigo a imperfeição do talvez; do
que quase
se desfez e pouco ficou

sigo o que pouco ficou e o que falta

mas sempre espero pelo momento perfeito do se..
prefiro perseguir o efêmero
os ponteiros têm pressa.. prefiro a

imperfeição do talvez; a espera do tento.
persigo o tento e
o inacabado momento que me

espera

sigo o inacabado e o que me resta..
o perfeito efeito de um jeito simples
o que o minhas janelas me espreitam

mas ainda não é o momento
me espera
os ponteiros têm pressa

ainda não é o momento, mas
me espera
que eu chego já
os ponteiros me apressam..

persigo a perfeição, não do que partiu mas, do que
ficou. sigo o
que chega e não a despedida

persigo a imperfeição do talvez. do
inacabado e
sigo.

do que quase se desfez
e pouco ficou
sigo o que pouco ficou e o que falta

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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

FLAPE
Seh M. Pereira
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das minhas
certidões,

flui o meu
amor por ti.. do meu
amor por ti, flui o envelhecer ao
seu lado..! ao seu lado, eu fluo.. fluo em uma
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cumplicidade
que segue, aceita e me
permanece; e permaneço, aqui,
aceitando seguir ao
seu lado
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até envelhecermos juntos..
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quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

CAÇULA
Seh M. Pereira
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os
meus poemas sentem
ciúmes de

mim:
igual a filho, mais velho, que volta
a engatinhar
por causa do caçula.
sentem ciumes de mim; e é

nessas horas que a minha
única certeza é..

e é nessas horas que a única certeza
de minha poesia é
que..
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é pelos olhos do poema, que
acabou de nascer,
que se sabe qual é o verme que ele
carrega..
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quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

PRECE
Seh M. Pereira
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e se essa rua fosse minha..?

o poema, com a roupa suja, passou por mim.
é um viaduto que se cala em respeito ao seu morador que reza no barraco.

barracos.
barracos. e barracos.
e barracos.

barracos. e barracos equilibrados em um alicerce.
a prece. e em situação de rua se entregou ao sinal de sua devoção, e se foi.

no viaduto.
depositei o respeito, e guardei também a minha prece.

o viaduto, às vezes, para o morador é um arco-íris..

embaixo do viaduto, um outro morador também guarda a sua prece.

o caminhão se cala, em cima.
em cima, o caminhão também se calou em respeito ao poema.
a prece é um poema que almoçou.

o alicerce dos barracos é um poema.
o alicerce desse viaduto, também, é um poema.
o alicerce dos moradores é a rima..

o poema é um alicerce que sustenta muitos barracos e me engana ao fingir que vai cair.


o poema é os moradores desse viaduto; desses barracos.
o poema sou eu, morador em situação da rua que não é minha.
e se essa rua fosse minha..?
eu mandava, eu mandava alguém lhe pagar ao menos um café.

o poema é um alicerce que finge que cede, mas me sustenta.

invejei o outro mendigo que passou por mim agora..
invejei o seu livre, e todas as amarras que me envolviam e me guardaram apertos se desfizeram; em janelas..
solto.
solto.

o poema, com a roupa suja, passou por mim.
eu sou, também, a roupa suja na ida
e isso não te invejo.
correndo com o relógio..

invejo a sua cortesia ao passar por mim e me reverenciar o perto..
logo eu que só reconheci meu perto na ida.
e ida pode ser de

partida,
despedida e ida de idade.
perdi todas as minhas certidões.

logo eu que só reconheci meu perto naquele mendigo, e
o invejei.
logo eu que só agora percebi que sou, às vezes, o fim do arco-iris: de concreto..
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terça-feira, 13 de setembro de 2016

FEBRÍFUGO
Seh M. Pereira
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E o meu
santo

bateu
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com o de sua casa; pediu
licença, e tirou
os

sapatos para entrar..
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